Thursday, November 16, 2006

A Sul -11 de Setembro

A sul

No capítulo geoestratégico da Europa e do Globo, a norte situam-se, regra geral, os países mais desenvolvidos e a sul posicionar-se-á o terceiro mundo. Assim o norte é culto, trabalhador, organizado e produtivo; o sul é inculto, pobre, indolente, desordenado. O norte está associado à boa orientação, ao exemplo a seguir; enquanto o sul é quase sempre esquecido e subalternizado.
Porquê “a sul”? Porque o autor desta coluna mora a sul do distrito. Porque não se pretende com as reflexões produzidas mostrar um caminho claramente definido, tão só fomentar a discussão e confrontar ideias. Porque se opta pelo ponto de vista da exigência, da frontalidade em confronto com a pasmaceira reinante dos interesses instalados. Porque é necessário agir contra a adversidade exposta na desertificação, na população envelhecida, na taxa de alfabetização e outros índices que nos inferiorizam face ao contexto nacional. Porque é necessário diversificar os horizontes e começar olhar … “a sul”


Nuvens cinzentas para o interior

No distrito de Bragança apenas um quinto (86 em 440) dos professores do Primeiro Ciclo dos Quadros de Zona Pedagógica obtiveram colocação no 1.º concurso de necessidades residuais. Em anos anteriores estes quadros não eram suficientes para atender às necessidades e houve sempre necessidade de recorrer a contratados. A desertificação humana obrigou ao encerramento de 225 escolas no distrito (cerca de três quartos do total) fruto da reorganização da rede escolar.
A situação que poderia ter sido há muito tratada e faseado no tempo, sempre foi escamoteada pelos responsáveis políticos e a administração escolar locais que fecharam os olhos ao óbvio: a diminuição da população escolar tornava insustentável de ano para ano a manutenção de escolas com uma, duas, três crianças… Aqui chegados, resta a conjuntura de quadros de pessoal docente sobredimensionados para os quais não se vê solução à vista, isto é, o que se fará a tantos professores com vínculo laboral ao Estado?
Os quadros não vão poder renovar-se nos próximos anos, o que quer dizer que os putativos candidatos a ingressar na carreira docente terão de varrer o distrito das suas justas aspirações profissionais, assim como os que alimentavam a ideia de regressar ao seu distrito de origem e mantinham por aqui uma residência, deverão questionar seriamente a possibilidade de ir habitar definitivamente fora da região. Aos que estão nos quadros paira a perspectiva angustiante da incerteza na manutenção dos lugares, bem como a possibilidade, cada vez mais fundamentada face ao novo estatuto em fase de aprovação, de terem de trabalhar em quadros de zona pedagógica limítrofes.
Dirão os mais distraídos que tudo isto é irrelevante, é uma questão de classe, por isso corporativista e pouco importará aos restantes bragançanos os problemas dos professores. Desenganem-se. É a região que fica sem quadros reflectindo-se o facto em todas as outras áreas da actividade económica. Mais, o que se passa com os professores reflectir-se-á brevemente em todos os outros sectores da administração pública, particularmente nos municípios, que têm sido os principais empregadores.
Esta conjuntura deverá merecer uma reflexão séria e consequente sobre a temática do desenvolvimento das regiões periféricas de molde a travar o seu contínuo despovoamento. O panorama presente dá a ideia de irreversibilidade na desertificação humana e estes são sinais preocupantes para o futuro do interior.
Sem o brado mediático do encerramento de qualquer fábrica no litoral, uma verdadeira revolução está a ser operada no mundo rural. Com o encerramento generalizado das escolas, as aldeias nunca mais vão ser as mesmas e encerra também uma das últimas esperanças para o mundo rural!

Desconsiderações

O ministro da Saúde, Correia de Campos, deixou nas mãos do conselho de administração do Centro Hospitalar do Nordeste a decisão sobre qual das maternidades deveria encerrar – Bragança ou Mirandela, porém a decisão foi anunciada pelo próprio numa ligeira entrevista de Verão ao JN (8/8/06).
Com uma argumentação que se considera falaciosa, explicou apenas que a razão era daquela ter “menos equipa” do que a de Bragança. Comparativamente, os factos são estes: Mirandela faz mais partos, é mais central para o distrito, possui melhores instalações, apetrechadas com equipamento mais moderno e um sistema anti-rapto. O senhor ministro basearia a decisão no facto do hospital de Mirandela só ter duas obstetras, menos que os especialistas que estão em Bragança. Só que, com a criação do Centro Hospitalar, os médicos trabalham de igual forma em Bragança, Mirandela ou Macedo de Cavaleiros.
Mais uma vez a lógica do centralismo prevaleceu e a manutenção da sala de partos na capital do distrito será apenas uma situação transitória, no futuro a população do sul escolherá Vila Real pela distância e qualidade de serviço.
Na mesma conversa ligeira de início de férias, entre risos, mais risos e a "importante" eleição da aspirina em detrimento do paracetamol, o nosso governante atestou também a incompetência dos Serviços de Atendimento Permanente (SAP) dos Centros de Saúde, dos quais é o maior responsável, ao dizer “vou directo à urgência do hospital … nunca vou ao SAP nem nunca irei”. Ou o senhor ministro pertence a um clã superior, ou não deve saber que uma parte da população portuguesa, particularmente a do interior, dispõe de um hospital a muitos minutos, até horas, de distância sem transportes públicos e a única alternativa que possui é o SAP. Se o sabe deveria tudo fazer para disponibilizar um mínimo de qualidade àqueles serviços ou então encerrá-los. O que não pode é com esta ligeireza produzir tais afirmações desrespeitando utentes e profissionais de serviços públicos.
Estas mesmas referências à população do litoral, uma decisão que visasse uma grande cidade, num outro país, esta entrevista não passaria impune e o senhor ministro teria de equacionar a demissão.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home